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COMPREENDO E ACEITO

A Igreja e o mundo como grande casa comum

 

Olho deste palco e vejo um mar de juventude e de cores, as fitas que identificam as vossas Faculdades, Escolas e Unidades Académicas. É um espetáculo belo, entusiasmante, que se grava nos olhos e no coração. Mas é, sobretudo um duplo sinal e garantia: os cursos que brevemente terminareis, constituirão uma via aberta para o futuro, a certeza de que passareis a dispor de um grande instrumento para a vossa própria realização, uma base para a constituição da vossa própria família e uma ferramenta para fazer crescer o mundo em humanismo, justiça social e paz. E isto é belo! É a própria esperança encarnada na realidade.

Estas vossas pastas e “capas velhinhas”, como diz a canção, exprimem, também, o caminho feliz que fizestes na Academia do Porto. No percurso académico, assim como na vida, sentistes que todos somos diferentes. Mas experimentastes igualmente que todos precisamos uns dos outros para nos completarmos e sermos verdadeiramente felizes. Sem os outros, afugenta-se a alegria de viver e encarceramo-nos no cativeiro da solidão. Precisamos dos outros. De todos os outros: daqueles que pensam como nós e dos que pensam diferente de nós; daqueles que fazem o que nós fazemos e dos que procedem doutro modo; daqueles que gostam do que nós gostamos e dos que procuram alternativas.

Isto que acontece na vida, dá-se igualmente na Igreja. As leituras desta Missa falam-nos disso mesmo, de uma Igreja que é como uma grande casa –a segunda leitura falava de pedras e construção- onde todos podem entrar e onde todos são bem-vindos. Sim, todos cabem na Igreja! Tal como a sonhou Jesus! Convido-vos a permanecerdes nela ou a reentrar nela aqueles que se afastaram ou se sentiram afastados. O sonho relatado no Evangelho de uma Igreja com muitas moradas, como disse Jesus, o sonho de um lugar onde todos cabem é  confiado a cada um de nós, para o concretizarmos no hoje da história. Entusiasmemo-nos com este sonho!

O evangelista João narrou-nos as palavras do próprio Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida». A nossa Igreja e a nossa sociedade só serão inclusivas se dermos crédito a estas palavras: se percorrermos o caminho que Ele percorreu e seguirmos as vias que Ele seguiu; se o grande critério para aferir a verdade for a sua mensagem de relação com o Pai e com os irmãos, evitando, deste modo, o relativismo total; se a qualidade da vida pessoal e social não consistir nos critérios do ter ou do poder, mas na grandeza do serviço e na proteção dos débeis. É nisto que se dá, hoje como sempre, a construção/concretização deste sonho.

Essa vai ser, sem dúvida, a experiência da Jornada Mundial da Juventude. Virão ao nosso país jovens do mundo inteiro, de diferentes lugares, culturas e crenças. Virão até nós, porque acreditam que será assim que a paz poderá chegar a todos os povos, a todas as pessoas. Virão para fazermos todos uma experiência feliz, de fraternidade!

Na próxima Jornada Mundial da Juventude, nos primeiros dias de agosto, em Lisboa, e na semana anterior, nos “Dias da Diocese”, também aqui no Porto, vamos ensaiar uma Igreja para o nosso tempo, mais simples, mais acolhedora, mais afável. Uma verdadeira Igreja. E para isso teremos de rever os nossos critérios, as nossas palavras, os nossos gestos para revelarmos Jesus, para mostrar o seu caminho, para que a sua palavra seja entendida como verdade e para que a sua vida constitua a expressão duma humanidade melhor, mais justa, fraterna e inclusiva.

Caríssimos finalistas, quereis fazer parte deste projeto? Quereis meter mãos à obra a partir do vosso inconformismo? Quereis assumir no presente o que virá a ser atitude corrente no futuro? Quereis fazer da próxima JMJ um «ensaio geral» para esta mudança? Participai nela. A Igreja precisa de cada um de vós. Na Igreja cabe cada um de vós. Na fidelidade ao Espírito, a Igreja será o que vós quiserdes que ela seja.

Celebrar a bênção das pastas, a bênção dos finalistas, significa tomarmos consciência deste grande sonho de Deus que em Jesus ganhou forma no mandamento novo do amor, no «amai-vos uns aos outros, como eu vos amei». Por favor, contribuí para a sua concretização.

Neste Dia da Mãe, um imenso obrigado a todas a mães, as que estão connosco e as que rasgam no céu caminhos de eternidade. Obrigado, mães, por dardes os vossos filhos à Igreja e ao mundo para humanizar a comunidade da fé e para tornar a sociedade mais justa, feliz e habitável.

A todos, o Senhor abençoe e proteja.

 

 

Manuel Linda, Bispo do Porto 07 de maio de 2023