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COMPREENDO E ACEITO

 

Chamados, vocacionados e missionários

 

 

Por feliz coincidência, a partir do exemplo dos Apóstolos e de Amós, os textos bíblicos deste Domingo situam-nos bem no âmago do ministério ordenado. Percorramo-los, pois eles constituem a Boa Nova para este dia de ordenações.

Na perícope imediatamente anterior a esta passagem do Evangelho de Marcos, aparecia-nos Jesus rejeitado pelos escrivas e fariseus e até pelos seus conterrâneos. Todos O recusam porque os seus corações, agarrados à tradição, não reservam um espaço para a novidade, para o futuro. Por isso, a Boa Nova e a salvação não entram neles.

Mas Jesus não é pessoa de desânimos. Se a pequena aldeia de Nazaré não O ouve, tem à sua frente a grandeza de toda a Galileia, a Judeia e o mundo. Os Apóstolos, que são testemunhas caladas de tudo isto, dão-se conta de que, por cada porta que se fecha, mil outras se abrem. E convencem-se que também eles precisam de ser enviados. É o que acontece logo a seguir, como nos refere o Evangelho de hoje. Eles que já tinham sido chamados e se sentiram vocacionados, são agora enviados para a missão. Tal como nós, os já ordenados. E tal como vós, a partir desta ordenação. O percurso é semelhante: sem vos dardes conta, uma voz interna chamou-vos ao Seminário e ao ministério; ao longo de anos e anos, acarinhastes esta fidelidade ao chamamento e destes conta de que a vocação passava por aí; e agora sou eu quem, em nome do Senhor, vos envio para o imenso trabalho que há a fazer na nossa Diocese.

Esta missão é minuciosamente pensada e regulada pelo Senhor Jesus. Pensemos em alguns aspetos, a partir do texto evangélico.

Antes de mais, manda-os pregar e curar. Pregar significa difundir. Há que levar a todos a certeza de que “não existe outro nome pelo qual possamos ser salvos que não seja o do Senhor Jesus Cristo” (At 4, 12). E curar é sanar ou tornar íntegros os corações atribulados e feridos. Em termos concretos, é trazer esperança onde só reina a desilusão. E acreditai que este campo é mais vasto do que possa parecer. Como diz o Papa Francisco na Bula que proclama o Jubileu de 2025, a “imprevisibilidade do futuro faz surgir sentimentos por vezes contrapostos: da confiança ao medo, da serenidade ao desânimo, da certeza à dúvida. Muitas vezes encontramos pessoas desanimadas que olham, com ceticismo e pessimismo, para o futuro, como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade”. Proporcionemo-la nós. É urgente. É do centro da nossa missão.

Depois, o Senhor envia-os dois a dois. É a referência ao apoio mútuo que devemos constituir uns para os outros e até à necessidade de intercambiarmos experiências e metodologias, mas é também o sublinhar do sentido comunitário do pertencer ao grupo dos amigos de Jesus. Caros ordinandos e ordenados, desenvolvamos ainda mais esta dimensão típica de quem se insere em Presbitério. Participemos mais, reunamo-nos mais, convivamos mais, fraternizemos mais, rezemos mais em conjunto. Ser padre é constituir família com os outros padres. E é regressar continuamente a ela, contentes e felizes, como aconteceu com os Apóstolos no final desta primeira tarefa missionária.

Manda-se ainda que não levemos nada para o caminho. Quem levava muitas coisas eram os tidos por importantes, aqueles que imaginavam que a sua consideração subia de acordo com o número de cavalos e jumentos carregados com víveres e roupas. O discípulo de Cristo, porém, abraça a sobriedade e modéstia e não coloca a sua meta de vida em nada que não seja a graça. Assim procederam os grandes reformadores da Igreja. Assim procedem os que, hoje, continuam a apostar na sua renovação sinodal.

Finalmente, refiro o mandato de sacudir o pó das sandálias no caso de não serem aceites. Não se trata de um gesto de vingança, ainda que escondidamente. Refere-se antes ao hábito judaico de, no regresso de terras pagãs, fazer esse rito como recusa de trazer para dentro do povo de Deus qualquer reminiscência de contaminação dos seus costumes, particularmente a idolatria. Somos enviados ao mundo. Mas não para sermos do mundo, nesse sentido de adotarmos os seus critérios e procedimentos. Se não nos ouvir, que fique com o que é dele que nós ofereceremos o nosso tesouro a outros. O que não faremos é vender a alma aos seus critérios… mundanos e violentos.

Meus caros, vivemos num tempo de imensas possibilidades espirituais e humanas. Mas não menos de nevoeiros, fantasmas e apreensões motivados pelo materialismo de vida e de cultura. A nossa missão consiste em reduzir estes últimos pelo alargamento dos primeiros. E o futuro apresenta-se com esperança. Vede o que se passa entre nós: é muito promissora a caminhada sinodal dos jovens na nossa diocese; as instituições diocesanas fazem o seu melhor, as paróquias mantém-se vivas e acolhedoras, o serviço da caridade como que nos identifica; na sociedade civil, os valores humanísticos proclamados pela democracia –de cuja implantação celebramos o cinquentenário- embora sempre confrontados com novos desafios, continuam bem presentes. Enfim, mesmo que a noite seja escura, pequenas lâmpadas rasgam as trevas e aquecem o coração.

Para isso, na linha da frente, situam-se os sacerdotes que servem esta Diocese do Porto. Quero agradecer-lhes, de coração, e apresenta-los ao povo de Deus como referências seguras. Tratem-nos bem, caros cristãos. Colocai-vos decididamente do lado deles e ajudai-os com a vossa colaboração e estima. Eles também têm sensibilidade!

E vós, caros próximos novos sacerdotes, esforçai-vos sempre por ser dignos deste grande e belo Presbitério. Vele por vós a Rainha do Clero e Mãe da Igreja, Nossa Senhora da Assunção, Padroeira ou Patrona da nossa Diocese.

 

 

 

+ Manuel Linda 14 de julho de 2024