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Peregrinos da Luz

Homilia da Vigília Pascal

 

 

Com textos bíblicos muito selecionados, escutamos a história da longa peregrinação de um povo de crentes, conduzido por Deus e, nele, de toda a humanidade. Uma extensa caminhada que vai da Criação à Parusia, isto é, à segunda e definitiva presença real do Senhor no nosso mundo, na sua glória, no final dos tempos, para nos dar o Reino em plenitude. Pelo meio ficam os encantos e desencantos da grande jornada da pessoa à face da terra, a solicitude de Deus e as suas ações salvíficas, as advertências dos profetas e as orientações das grandes sentinelas vigilantes para que ninguém se perdesse no caminho, as admoestações e os afagos para que todos atinjam as mais belas metas. Tudo para chegar à certeza fundante, fonte de alegria e de paz: “Como Cristo ressuscitou, também nós viveremos uma vida nova” (Rom 6, 4). E, no Evangelho, apresenta-se o testemunho vivo deste anúncio: “Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui: ressuscitou” (Lc 24, 6-7).

Sim, observada pelo enfoque da fé, a história é uma peregrinação. Santo Agostinho, que tem sempre presente na sua mente o «homem caminhante», o «homo viator», diz que podemos encantar-nos com o mundo e passar a vida a contemplá-lo. Por isso, incentiva e anima: “Vieste aqui para fazer a tua viagem. Entraste no mundo para o deixar, não para ficares nele. És um viajante. Esta vida é apenas uma estalagem”. A história sagrada que esta longa Liturgia da Palavra nos apresenta também ela é um incentivo a olhar na direção da grande meta do reino de Deus e a meter pés ao caminho. Passaremos pela cruz, evidentemente. Mas por uma cruz que é florida, luminosa, pascal. Cruz que não é meta, mas meio. A meta é a glória!

É o que aprendemos com o Evangelho. Fala-se nele de duas peregrinações: a das “mulheres que tinham vindo da Galileia”, que buscam um morto a embalsamar, e de Pedro que se pôsa caminho, correu ao sepulcro, viu as ligaduras e voltou para casa admirado com o que tinha sucedido. Na primeira, na de Maria Madalena e das outras mulheres, nota-se a falta de esperança e de abertura ao mistério. Por isso, apenas pensam no morto. Mas acabam por encontrar o Vivente, pois souberam recuperar, com a mente da fé, as palavras que Lhe haviam escutado. Acreditaram e partiram para a missão do anúncio aos discípulos. Pedro, por sua vez, não se deve ter distinguido dos outros Apóstolos, para quem, como sublinha o texto, “tais palavras pareciam um desvario e não acreditaram nelas. Pedro foi ao túmulo por alguma curiosidade, mas sem ter dado aquela reviravolta interior que passa da curiosidade à aceitação e à fé. Por isso, naquele momento, não viu nem fez a experiência do Ressuscitado.

Irmãs e irmãos, parece que cada um de nós, no nosso ser pessoal, e o mundo que todos formamos, vivemos uma espécie de bipolaridade doentia que nos faz situar umas vezes apenas no encanto pelo mundo, ficando estáticos e adormecidos, e outras vezes no lúgubre do sinistro, do tétrico e pavoroso. Não pode ser! Sabemos que há dores e desânimos, mas temos de caminhar na direção da luz e do canto, da vida e da plenitude. Na direção do Ressuscitado! Páscoa associa-se a alegria, felicidade, ânimo, sentido para a vida. Deixemos de lado os remédios para a depressão existencial e substituamo-los pelo grande medicamento que é a união com o Ressuscitado.

Esta tónica da alegria e do entusiasmo está bem presente nesta liturgia. Começamo-la com uma peregrinação de luz. Depois da bênção do lume novo, caminhamos até ao altar para acender as velas da fé presentes nas vossas mãos e que enchem de claridade esta Catedral. Depois, saudamos a luz, símbolo do Ressuscitado, com o belo cântico do «precónio pascal». E é com esta luz que entoamos os aleluias da ressurreição, a renovação das promessas do batismo, já a seguir, e a própria comunhão do Corpo e do Sangue do Senhor, memorial da sua presença entre nós.

Sim, a meta é a luz. É o Ressuscitado! Que esta Vigília reoriente a nossa face no sentido da fé, da alegria e da esperança. Que a peregrinação da nossa vida nos encaminhe para a luz e para a ressurreição. Que a nossa existência seja um contínuo canto do aleluia!

 

 

 

 

+ Manuel Linda
19 de abril de 2025