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Peregrinos da Páscoa

Homilia do Domingo de Ramos de 2025

 

 

Como sabemos, o lema deste ano jubilar de 2025 é “Peregrinos de esperança”. Este longo trecho do Evangelho agora escutado também nos fala de uma peregrinação, embora dramática e dolorosa. Mas já deixa antever o que, pela fé, conhecemos bem: a confirmação de uma esperança, já que a morte se transformou em vida, as trevas em luz, o fracasso em plenitude. Gostava de apresentar três notas típicas desta peregrinação do Senhor em direção à Páscoa, como refere o Papa Francisco (Misericordiae Vultus, 14).

Na vida, muitas vezes caminhamos sozinhos. Excluímos os outros. Quer cada um de nós, individualmente, quer a sociedade enquanto tal. Mas Jesus caminhou bem no centro da multidão constituída por gente nas mais diversas situações: condenados e violentos, titulares do poder e sofredores, pessoas do escárnio e outras em lágrimas, indiferentes e amigos. Ao contrário de nós, o Redentor está bem no centro da sociedade e não hipoteca a sua identidade espiritual: fixa o seu olhar e obtém a contrição, fala de Deus mesmo quando está a ser julgado por ser seu Filho, perdoa a arrependidos, imprime a sua imagem nos panos que Lhe limpam o sangue e o suor.

Em segundo lugar, quando antevemos que nos vamos encontrar com o mundo do sofrimento –com o irmão batido pela dor, meio morto, nu e abandonado, como no caso daquele homem a quem o samaritano  da parábola tratou das feridas e levou até à estalagem- seguimos por outro caminho, como que para taparmos os nossos próprios olhos: “Eu não vi; se visse, certamente ajudaria”. Ao contrário de nós e de uma sociedade que perdeu alguns valores de solidariedade e de compromisso com os que sofrem, Jesus aceitou a via dolorosa, a cruz com que outros O sobrecarregaram, o caminho que naquele momento tinha de percorre, para estar com os que padecem, e os consolar, e com os que causam o sofrimento, para os converter.

E ainda outra nota: Jesus nunca caminha sozinho, mas faz percurso sempre comDeus Pai. Na prática, nesta sua peregrinação até ao Calvário –melhor: um percurso chamado Páscoa que O leva até à glória do Pai-, tudo começa com a oração “Meus Deus, se é possível afasta de mim este cálice” e termina com o salmo “Pai, nas vossas mãos entrego o meu espírito (Sl 30,2). Nós, porém, muitas vezes, afastamos Deus do nosso caminho e a sociedade acordou que seria mais «correto» nem sequer O nomear. Parece que escondemos de nós mesmos a necessidade que temos d’Ele. Preferimos contar com as nossas próprias forças, enfrentar sozinhos os medos da vida, não deixar que seja Ele a levar a nossa cruz. É este, porventura, o maior pecado do nosso mundo de hoje. É que quando não queremos caminhar ao lado de Jesus, também não queremos os outros perto de nós. A cultura deste tempo confirma isso mesmo: com o abaixar da dimensão religiosa também se acentuou o individualismo hedonista e a despreocupação com os outros. Por vezes, até à ignorância dos próprios pais.

Irmãs e irmãos, a nossa vida é uma peregrinação e o ser humano um viajante. Oxalá, ao menos, tenha uma meta e, se for boa, a consigamos alcançar. Então, caminhemos, peregrinemos. Dando bem conta de que caminhar supõe sempre muito empenho e sacrifício, afinco e alguma sã teimosia. Supõe coragem. A coragem de caminhar com os outros, de encarar de frente as feridas da humanidade e de ter Deus como companheiro e guia. E, ao fim e ao cabo, como a própria meta.

Nesta Páscoa do ano jubilar de 2025, despertemos para a peregrinação. Caminhemos com Jesus e como Jesus. Se nos tivermos perdido no caminho, regressemos; se nos sentamos no chão, cansados e desanimados, levantemo-nos e recuperemos a esperança da meta; se desesperamos por irmos sozinhos, olhemos para o lado, fixemos o rosto dos irmãos e demos as mãos aos outros e ao grande Outro; se desconhecemos o que é a alegria de caminhar com Deus, mudemos de atitude e demos-Lhe espaço ao nosso lado, pois Ele é especialista em “sobrecarregar o coração com a miséria alheia” (Santo Agostinho).

Para todos, feliz semana santa. Feliz Páscoa! Feliz peregrinação até à meta da luz e da Vida em plenitude, razão última do nosso caminhar em esperança.

+ Manuel Linda 13 de abril de 2025