Peregrinos da Humanidade
Homilia na Missa Crismal de 2025
Caríssimos Ministros ordenados, bispos, padres e diáconos,
neste dia aniversário da nossa instituição como associados e continuadores do sacerdócio de Jesus Cristo, deixamos as casas que habitamos para nos congregarmos nesta casa da família diocesana do Porto, aqui onde muitos foram gerados para a vida ministerial e para a alegria de servir. Realizamos, assim, com forte contentamento, uma pequena peregrinação, dando assentimento ao lema deste jubileu: “Peregrinos de esperança”. Somos peregrinos geográficos. Mas estamos aqui, fundamentalmente, como peregrinos de interioridade, pois a razão que nos move é de natureza espiritual: a do reavivar o dom recebido; de regresso à pureza luminosa daquele primeiro momento fundante que foi a nossa ordenação; de renovação das promessas sacerdotais que consistem num esquecimento das nossas vontades e desejos para, de forma mais livre e dedicada, servirmos o santo povo de Deus que nos está confiado.
De facto, a nossa identidade é a de um «sacerdote peregrino». O Senhor Jesus disse-o e realizou-o a partir da sinagoga de Nazaré: “O Espírito de Deus está sobre mim […]. Ele me enviou a anunciar…”. E porque enviado, partiu mesmo. Partiu pelas vias onde se encontrava o povo, fosse no silêncio do poço de Sicar, fosse no barulho das multidões que afluíam ao templo de Jerusalém. Tudo isto até à grande peregrinação do Calvário e da Pascoa. Desta forma, depois d’Ele, se algo carateriza o alter Christus que somos nós, é precisamente sentirmo-nos ser de dinamismo, de saída, de mobilidade exterior e interior, do contacto, do estar com os outros. Enfim, serperegrino da humanidade. Assim fez Pedro, Paulo e os outros apóstolos; assim fizeram os missionários de todos os tempos; assim somos chamados a fazer nós.
O sacerdote peregrino carateriza-se por uma dupla dimensão: o desejo de um diálogo íntimo com Deus, expressão de uma verdadeira peregrinação interior, por vezes difícil, mas sempre necessária para selar as vidas do Adorado e do adorador; e sair de si, movido pelo empenho missionário do anúncio da verdade de Deus, num dialogo contínuo com os outros. Se o primeiro âmbito é indispensável para não trabalharmos para nós, mas para Aquele que nos mandou pregar o Reino, o segundo exige-se, pois o centro do ministério, particularmente o do Pároco, reside precisamente neste saber peregrinar com os irmãos para conhecer as suas necessidades e lutas, carências e ânsias, abertura à transcendência ou queda no materialismo, para os ajudar a não perderem a meta e a ter sempre presente na estrada da vida. É a peregrinação na direção dos corações: de Deus e dos irmãos.
Precisamente porque o fazeis, caros Ministros ordenados, quero dar os mais sinceros parabéns e dizer um simples mas sentido «obrigado». Obrigado porque vos sacrificais imenso para servir os outros. Obrigado porque procurais ser cada vez mais, no dia-a-dia, um alter Christus. Obrigado porque atuais o verdadeiro percurso sinodal, qual seja o de promover a esperança num mundo que sofre grande carência a esse nível; de saberdes escutar para descobrir soluções para enfrentar os desafios cada vez maiores; porque tendes encorajado o diálogo, expressão de uma Igreja em saída; enfim, porque sois agentes insubstituíveis da renovação da Igreja no discernimento e na unidade. Para usar uma expressão bíblica, sois, efetivamente “concidadãos dos santos e família de Deus” (Ef 2, 19).
Precisamente por isso, apetecia-me sintetizar tudo com uma frase do Papa Francisco, retirada da Carta aos Párocos: “A Igreja não pode caminhar sem o vosso empenho e serviço”. Sim, precisamos de integrar todos os carismas e ministérios, mas nada substitui o ministro ordenado. Porque assim é, imploro-vos, em nome de Deus, que continueis a dar o melhor de vós mesmos pela causa que servis. Sem desânimos nem reservas. Mas com atitudes que serão marcantes, porque, muitas vezes, são precisamente as opostas ao habitual da sociedade descrente. São aquelas que o Papa Francisco refere a respeito de São Pedro Favre, no dia em que o canonizou: diálogo com todos, piedade simples, uma certa ingenuidade, disponibilidade imediata, discernimento interior, capacidade de ser forte e, ao mesmo tempo, doce.
A nossa vida de peregrinos é marcada por momentos de intensa alegria, mas também por dores agudas. Assinalava alguns destes estados de espírito, relacionados com momentos que vivemos. Assim, desde 28 de março de 2024, data da Missa Crismal do ano passado, assinalaria:
Faleceram os seguintes sacerdotes: Pe. Belmiro Coelho da Silva(10/04/2024); Pe. Manuel António Alves das Silva (27/05/2024); Pe. António AugustoTeixeira de Sousa (Dehoniano) (01/07/2024); Pe. Joaquim Moreira Fernandes(13/07/2024); Pe. António da Silva Martins (25/07/2024); Pe. Joaquim Costa de Almeida Paiva (05/09/2024); Pe. Manuel José Dias Amorim (14/09/2024); Pe. ManuelDomingues dos Santos (01/11/2024); Pe. Mário Fernando Mendes da Costa Pinto(23/12/2024); Pe. José Ferreira Monteiro Branco (13/01/2025); Pe. Alpoim Alves Portugal (Carmelita) (09/02/2025); Pe. Florentino Fernandes de Sousa (11/03/2025); Pe. José Pais de Oliveira (28/03/2025); Pe. Fernando Dias da Costa Campos(01/04/2025) e o Diácono José Agostinho Carvalho Moreira (08/11/2024).
Em contrapartida, foram ordenados Diáconos: em ordem ao sacerdócio(08/12/2024), Emanuel João Macedo da Mata; José Manuel Ferrão Abrantes; José Moisés Ramirez Guerra. Como diácono Permanente, Miguel António Fontes da Silva.
Também foram ordenados Sacerdotes (14 de julho de 2024): David João SilvaAzevedo; Pedro Joaquim Gonçalves Teixeira; David Samuel Brás de CastroLaranjeira; Adrián Javier Arteaga Paucar.
Neste ano, comemorarão Bodas de prata sacerdotais (25º aniversário de ordenação, em 2000): Pe. António Alves Pinto da Costa; Pe. José Avelino TorresMoreira; Pe. José Carlos Lima Rosa; Pe. Manuel António dos Santos Carvalho Mendes; Pe. Manuel Joaquim da Costa Ferreira; Pe. Mário João Ferraz da Rocha Soares; Pe. Paulo Jorge Carvalho Pinto. Em Bodas de ouro sacerdotais (50º aniversáriode ordenação, em 1975), teremos: Cón. Fernando de Lima Milheiro Leite e Pe. Manuel Pereira Crespo. Comemoram, ainda, sessenta anos de ordenação (em 1965): Mons. António Orlando Ramos dos Santos; Cón. Arnaldo Cardoso de Pinho; Pe. Adriano Leite Gomes; Pe. Américo de Sá Rebelo; Pe. António Augusto Borges de Pinho Alves; Pe. António Maria de Sousa Moreira da Silva; Pe. Artur de Matos Bastos (Boa Nova); Pe. Joaquim de Sousa Ribeiro; Pe. José da Fonseca Lemos. E o P. Domingos Taveira e o Pe. Manuel Valente da Silva celebram mesmo setenta anos de ordenação (1955). No dom da vida, assinale-se o centenário do nascimento do nosso Mons. José Pereira Soares Jorge (02/02/191).
Caros Ministros ordenados, renovo o meu sentimento de gratidão porque cultivais uma diferença positiva. E peço-vos que nos mantenhamos unidos e coesos, pois, como sucede com a corda, o entrelaçar dos vários filamentos confere-lhe uma resiliência que individualmente os vários fios não possuem. E caminhemos! Caminhemos quais sacerdotes peregrinos da humanidade.
+ Manuel Linda 17 de abril de 2025