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COMPREENDO E ACEITO

 

Remendos?

A respeito da ideologia do género, é vulgar citar-se a frase ácida de Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher; torna-se”. Não sei se ela era devota de Tertuliano. Porém, foi este grande pensador dos finais do século II quem a cunhou nos seus elementos essenciais, agora por ela alterados: “Ninguém nasce cristão; torna-se”.

Esta é uma verdade a não esquecer. Peguemos na história dos discípulos, os primeiros cristãos. Viviam a sua cultura religiosa judaica com mais ou menos convicção. A dado momento, terão ouvido falar de um Rabi da Galileia ou terão mesmo sido convidados por Ele a segui-l’O para o escutarem e conhecerem de perto.

A aceitação da mensagem e do estilo de vida deste «Profeta» nunca foi linear, não se deu em crescendo ininterrupto. O caso dos Apóstolos é exemplar: não obstante o seu contacto privilegiado, pouco tempo antes da Páscoa ainda se estavam a interrogar quem deles era o maior ou quem iria sentar-se à direita e à esquerda do novo governador que substituiria os déspotas do império romano. E a «adesão» à Pessoa de Jesus era tal que, na Paixão, todos fugira, menos João. O processo de se tornar cristão foi, pois, pessoal e lento. Muito lento!

Com a difusão massiva do cristianismo, imaginamos que a fé se recebia com o leite materno. É verdade que a ambiência religiosa familiar, a simbólica da fé omnipresente e uma cultura cristã que nos envolve e penetra na mente, faz dos bebés «potencialmente» cristãos. E, para usar os termos da filosofia, essa potência faz-se ato na catequese e processo da iniciação cristã.

  Mas os muitos que foram batizados e nunca mais entraram na igreja? E os que habitam meios onde a dimensão religiosa está rarefeita? E aqueles que, na família, nunca ouviram pronunciar o nome de Deus?

Já não são suficientes remendos de pano novo neste vestido velho. Há que costurar outro fato. Importa partir do pressuposto de que já não se nasce cristão e ir ao encontro desses «pagãos» para fazer a proposta concreta da fé, que pode ou não ser aceite. Há que passar da cristandade ao contacto tu-a-tu.

A sinodalidade também passa por aqui: em espírito de comunhão, participar na descoberta dos caminhos a percorrer neste nosso tempo que carece de uma nova evangelização e fazer disso a principal missão da Igreja.

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