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COMPREENDO E ACEITO

 

Embaixadores de Cristo para uma Diocese com coração

 

O bispo diocesano confia ao Reitor do Seminário a tarefa fundamentalíssima de conduzir alguns jovens à participação no sacerdócio de Jesus em favor do seu povo, como verdadeiros “ministros da reconciliação” e autênticos “embaixadores de Cristo” (2Cor 5, 19-20). Portanto, não fica nada mal que, neste momento, sendo um bispo auxiliar quem exerce as funções de Reitor, seja ele a presidir a esse momento cimeiro que confirma a razão de ser do Seminário, sela a generosidade destes jovens que dispõem da sua vida para o serviço dos seus irmãos na fé e enchem de alegria a nossa Diocese do Porto e a Congregação Dehoniana.

Na pessoa do senhor D. Vitorino, saúdo cordialmente os outros bispos presentes, o Vigário Geral, o Presidente do Cabido e toda a Corporação Capitular, os formadores destes ordinandos, mormente o Reitor e Vice-Reitor do Seminário Redemptoris Mater, os Superiores dehonianos, todo o Clero e Diáconos e todo o povo de Deus que se reúne para este momento grande. Não esqueço os Párocos que lhes despertaram a vocação e quantos os ajudaram a formar, mormente ao nível da Faculdade de Teologia e dos estágios. Uma palavra muito sentida vai para os seus familiares: também vós vos sentis realizados na realização destes vossos filhos e irmãos. Parabéns! Um cumprimento especialíssimo vai para os familiares do José Almonte e Misael Fermin que nos acompanham espiritualmente desde a República Dominicana pelo nosso canal de vídeo, tal como os familiares do Carlos Maurício, a partir do Equador, já que a situação que o mundo vive obriga-os a sofrer esta imensa dor de não poderem estar com os seus filhos no momento mais marcante das suas vidas. Desde esta catedral y de la hermosa ciudad de Oporto, un saludo muy especial para ustedes, los padres y la familia de Carlos Maurício, José Almonte y Misael Fermín. Sé que están unidos a nosotros, como nosotros estamos unidos a ustedes. El padecimiento de no ser posible acompañar presencialmente este momento tan importante de vuestros hijos se compensa con la alegría de verlos participantes en el sacerdocio de Cristo. Gracias por darnos vuestros hijos para el servicio de esta Diócesis de Oporto.

Por uma feliz coincidência, o Evangelho de hoje apresenta-nos a conhecida parábola do semeador e da semente. Jesus não a contou apenas para nos pôr a refletir, mas para nos dar a conhecer o mistério de Deus que se desvela na sua própria história. Isto é, na prática, Jesus fala-nos do Pai a partir das ações que Ele, Jesus, realiza na história dos homens. A parábola sintetiza a ação de Deus e do seu Enviado, Jesus Cristo.

Começa por nos dizer que há três géneros de terrenos estéreis, onde a Palavra da fé não vinga, e só num frutifica. E mesmo nesse, são possíveis três graus de rendimento que vão do pouco ao muitíssimo. Quais as razões para essa diferença de produtividade? Da qualidade da semente? Não. Imagina-se que ela é sempre a mesma. Do jeito do semeador? Também não, pois se faz produzir num lado, também o faria noutros locais. Das condições climatéricas, da falta de chuva ou seu efeito? Também não, pois a primeira leitura garantia que “a chuva e a neve que descem do céu não voltam para lá sem terem regado a terra, sem a terem fecundado e feito produzir”. Sim, o que vem do Alto torna fecundo e faz produzir.

A razão da míngua ou plenitude da colheita está pura e simplesmente no terreno, sua qualidade e preparação. Por isso, para este Sagrado Agricultor que é Jesus Cristo como para qualquer agricultor que nós conheçamos, o maior trabalho não está tanto no ato de semear, por sinal, simples e pouco árduo: a parte difícil, que reclama muito suor e, por vezes, algumas lágrimas, está no amanho dos terrenos, na sua preparação longa e cuidada, no revolver a terra para que a crosta da arrogância seja transformada em leveza que recebe, absorve e interage com a semente, de modo que esta, possuidora de uma força ou eficácia que a faz enraizar, crescer e multiplicar, mesmo sem entendermos como, venha a constituir a alegria do semeador, o sustento da sua casa e o cumprimento da razão pela qual a terra se cultiva.

Ora, os Evangelhos dizem-nos que Jesus lança a Palavra, qual semente frutificante, aos ouvidos da multidão. Pensemos nos temas sublimes e difíceis do pão da Vida, das bem-aventuranças, da destruição do anquilosado templo de pedra e sua substituição pelo Seu Corpo glorioso, após o acontecimento pascal. Mas a grande maioria das páginas do Evangelho do que nos falam é da preparação do terreno para essas pregações. É do trabalho contínuo de fazer render os corações, duros e inóspitos, mediante as curas, o alimento sem trabalho, o caminhar com os pobres, o saciar os famintos de todas as fomes, o soltar os presos de todas as cadeias da existência, o recuperar a vista dos cegos que só se vêm a si próprios, o libertar os oprimidos pela sua autossuficiência, etc.

Caros candidatos a Presbíteros e Diáconos, aqui está o segredo da pastoral. Esta não consiste num anúncio «profissional» e rotineiro a quem ouve a homilia do Domingo, manda os filhos à catequese ou participa num qualquer tríduo preparatório para isto ou para aquilo. A verdadeira pastoral é fazer como Jesus, de quem o vosso sacerdócio é participação: tornar os corações simpáticos e acolhedores para depois lhes anunciar a Palavra que gera a vida. Isto é: tereis de percorrer os caminhos de uma qualquer Palestina que vos for destinada para, na simpatia com o vosso povo, criardes as pré-condições ou predisposições para que o anúncio da Palavra chegue mesmo à terra esponjosa, recetora e removida do coração humano. Mas, atenção a uma coisa: é preciso fazer isso à maneira de Jesus ou como Ele o fez: sem perder a sua especificidade, sem se tornar um líder popularucho, sem se abaixar para ficar a esse nível. Por isso, na chamada “oração sacerdotal”, o Mestre ordena aos Apóstolos e a todos os que haveriam de participar no seu sacerdócio que, mesmo estando no mundo, não sejam do mundo (cf Jo 17, 11.14). Levai isto muito a sério.

Há dias, com os irmãos do Presbitério a que ides pertencer, agora ou brevemente, a partir de acontecimentos históricos, eu lembrava-lhes que o Porto é a cidade e a Diocese do coração. Volto a referir isto a vós mesmos. Acrescentando este dado: se quereis servir a Igreja de Deus do Porto, começai por conquistar o coração dos seus fiéis. Dedicai-vos a eles, vivei para eles, sofrei com eles, alegrai-vos com eles, amai-os com um amor misericordioso e clemente. Não vos afasteis deles por um estatuto social de importância, não vos sobreponhais aos pobres pelo luxo e pela ostentação, não vos ligueis a grupos de qualquer género que apenas querem satisfazer as suas manias, mesmo escandalizando a maioria.

Invoco sobre Vós a continua proteção da Mãe do Bom Pastor, venerada nesta Cidade da Virgem como Senhora da Vandoma e, em toda a Diocese, como Senhora da Assunção: ela vos obtenha a graça de exercerdes o sacerdócio como Jesus Cristo, de quem, aliás, o vosso sacerdócio é participação.

O vosso bispo e irmão que muito se alegra por vos receber,

 

 

Manuel Linda, Bispo do Porto 12 de julho de 2020