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Homilia no funeral do Pe. António Augusto

O túmulo é berço para a plenitude da existência

O Evangelho agora proclamado refere-se ao conhecido episódio da ressurreição de Lázaro, grande amigo de Jesus, bem como suas irmãs, Marta e Maria. Gostava de acentuar quatro pontos: diante da morte, Jesus fica em silêncio e comove-se; depois, chora; a seguir reza ao Pai; finalmente realiza gestos e profere palavras que trazem vida e ressurreição. Também neste momento, nesta igreja de Baguim, em nome de Cristo, esta comunidade crente que se reuniu para confortar a família e os amigos e interceder pelo caríssimo P. António Augusto, repete estas atitudes de Cristo.

Creio que isto aconteceu com todos nós: quando recebemos a notícia da morte do P. António Augusto, certamente ficamos sem palavras. Pelo menos eu. As únicas que consegui pronunciar foi: “Não, não é possível!”. E reinou um longo silêncio, a ponto da pessoa que estava do outro lado do telemóvel ter de me fazer a pergunta habitual: “Está?”. E confesso: chorei. Chorei como Jesus perante o cadáver de Lázaro. E não foi o único momento…

Entretanto, eu e todos vocês, já balbuciamos muitas vezes a conhecida oração: “Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso…”. E outras, muitas outras orações. E aqui estamos, nesta grande oração que é a Missa exequial, conjunto de gestos e palavras que, alicerçados na fé, nos remetem para a vida nova em Cristo e para a ressurreição, para uma dimensão gloriosa que o P. António Augusto já experimenta. Fazemos o que é habitual, mas não deixa de ser sempre algo de novo porque ditado pela profunda amizade que nos unia a ele. E quando se junta amizade e fé, acontece algo de absolutamente extraordinário: na noite mais escura ou fria, mesmo que não haja mais nada, uma simples e pequena chama já ilumina qualquer coisa ou aquece as mãos, dando uma sensação de conforto. É isto que nos remete para o exemplo de Cristo: Ele também morreu e foi sepultado. Mas ressuscitou glorioso e agora vive para sempre. E isto dá-nos conforto.

É aqui, na fé, que encontramos a grande mensagem de vida. A morte não é a supressão da vida. Deus, não é como nós que fazemos e desfazemos, amamos e odiamos, decidimos e depois arrependemo-nos, avançamos e recuamos. Não. Deus é o Senhor da vida. Por isso, n’Ele, o túmulo é berço para a plenitude da existência. Essa existência definitiva a que chamamos vida eterna. Caros amigos, confortemo-nos. Certamente, estamos dilacerados pela tristeza como Maria no Calvário, aos pés do seu Filho morto. É precisamente a Nossa Senhora que confiamos o P. António Augusto para que Jesus cuide dele e a nós, nos dê o necessário conforto para prosseguirmos a jornada da vida e sermos fiéis à fé, à esperança e ao amor.

O P. António Augusto Teixeira de Sousa nasceu a 21/03/1953, em Constance, Marco de Canavezes. Entrou para o Seminário do P. Dehon (Dehonianos) e foi ordenado Padre a 21/12/1980. Trabalhou na casa de formação que os Dehonianos têm no Funchal, na animação missionária, na pastoral vocacional, na direção de uma revista e no Seminário que tinham em Coimbra. Foi Conselheiro Provincial, Pároco de Queijas, Reitor do Santuário de Nossa Senhora da Rocha e Pároco de Forte da Casa, tudo isto em Lisboa. Na Diocese do Porto, integrou a Comunidade Betânia, em Duas Igrejas e, a partir de 2015 começou a prestar brilhante serviço paroquial: primeiro nas Paróquias de Melres e Medas e, já comigo, a partir de setembro de 2020, nas Paróquias de Lavra e Perafita.

Pessoalmente, muitas circunstâncias me ligaram ao P. António Augusto. Conheci-o no Curso de Capelães, quando fomos convocados para o serviço militar obrigatório. Depois disso, voltamos a encontrar-nos várias vezes. Mas foi também um funeral de um militar, na sua Paróquia de Forte da Casa, em Vila Franca de Xira, aí por 2014, que nos pôs mais em contacto. A partir dessa altura, passei a ajudá-lo na Paróquia, especialmente por alturas da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, devoção tão típica dos dehonianos. Daqui a confiança mútuas que sempre nos uniu nesta última década. Confiança transformada em profunda amizade que nem a morte interromperá.

Descanses em paz, caríssimo P. António Augusto.

 

+ Manuel Linda
04 de julho de 2024