O texto da Diocese do Porto enviado para a Conferência Episcopal Portuguesa, nesta fase de 2024 do Sínodo, sublinha a necessidade de viver a missão para lá do espaço eclesial, salientando a importância da escuta e dos espaços de diálogo. Assinala a inclusão das mulheres e o conceito de paróquia territorial como temas relevantes de reflexão. Partilhamo-lo na íntegra.
Para responder à questão “Como ser Igreja Sinodal em Missão?” colocada pela Secretaria Geral do Sínodo, dado o reduzido prazo e dado não haver um dinamismo de encontros sinodais alargado a toda a diocese do Porto, recorremos às sessões mais próximas do Conselho Diocesano de Pastoral e do Conselho Presbiteral, acolhendo, ainda, algumas participações voluntárias que, entretanto, foram recebidas.
Há uma forte consciência da necessidade de viver a missão para lá do espaço eclesial mais habitual, melhorando, por todos os meios, a difícil comunicação com quem não está por dentro da linguagem e das estruturas, por exemplo, adquirindo melhores competências no uso das novas tecnologias de comunicação. O acolhimento de todos precisa ser efectivo, apresentando uma proposta clara de vida cristã e, ao mesmo tempo, respeitando o caminho de cada um.
Para que a missão nasça de uma igreja sinodal, é necessário que os processos de renovação, tanto na vida diocesana como na vida consagrada, sejam fruto de uma escuta permanente e não sejam apenas consequência forçada pelas circunstâncias. Aqui, cabe referir a consciência da necessidade de amadurecer as dinâmicas de cooperação entre a diocese, as instituições de vida consagrada e os movimentos e obras, unidos no fim único de anunciar o evangelho.
A corresponsabilidade diferenciada na missão de todos os membros, passa pela valorização da cooperação entre leigos e ministros ordenados, alargando as competências atribuídas aos primeiros, em espírito de corresponsabilidade e avançando na instituição nos ministérios laicais. Ao falar de corresponsabilidade e cooperação na missão, sobressai o lugar do bispo diocesano, centro de articulação de pessoas e instituições e modelo comunhão.
Especial atenção deve merecer a inclusão de mulheres nas instâncias de consulta e decisão, mormente nos conselhos pastorais e económicos, procurando a paridade e reconhecendo o seu contributo fundamental na vida da Igreja e da sociedade.
Para que todos participem da missão, é fundamental criar espaços de diálogo, como assembleias paroquiais, e assumir a exigência dos conselhos pastorais como instâncias de discernimento para a missão. Também urge pensar a possibilidade de criar conselhos inter-paroquiais ou mesmo vicariais, conforme as circunstâncias, de modo a criar dinamismos comuns e a optimizar iniciativas e recursos, promovendo o trabalho inter-paroquial e diminuindo a sobrecarga de muitos párocos. Importa que estes dinamismos inter-paroquiais sejam estáveis em face das nomeações presbiterais.
Mesmo o conceito de paróquia territorial deve merecer uma reflexão sobre as suas virtudes e os seus limites, para melhor atender às necessidades e possibilidades da missão. A par disso, importa não centralizar a pastoral nos grandes polos urbanos para não esquecer as periferias da diocese.
Claro que as periferias não são apenas geográficas e merece destaque o cuidado pela inclusão das pessoas com deficiência, quer pela facilitação do acesso aos espaços físicos, quer pela inserção nos conselhos e serviços da comunidade, criando as condições para uma participação eclesial plena.
Especial atenção devem merecer os ministérios laicais instituídos, para os quais é necessário avançar, com decisão. Não querendo para os leigos o clericalismo que não queremos para os clérigos, devem ser vistos como sinais de corresponsabilidade na missão. Para além dos já previstos, interessaria prevê-los para a realidade da pastoral familiar e do serviço de escuta e acompanhamento, que necessita ser ampliado a todos os níveis, da paróquia à diocese. Este ministério da escuta e acompanhamento é fundamental para ir ao encontro dos sós, idosos e pessoas com deficiência. Sem esquecer o lugar dos diáconos no ministério da caridade, seria também conveniente um ministério laical nesta dimensão, para dar o devido relevo à sua dimensão espiritual. O exercício da caridade reveste-se de enorme importância, marcando a presença da Igreja na sociedade, sobretudo nas suas formas institucionais de cooperação com o Estado, contudo, é necessário não esquecer que todos somos chamados a vivê-la em formas mais discretas e pessoais, mas não menos importantes.
Algumas notas mais se destacam, como possíveis prioridades no planeamento pastoral. Logo à frente, tudo quanto respeita à família. Desde o acompanhamento do namoro, como preparação para o matrimónio, ao acolhimento e acompanhamento dos casais jovens que têm mais dificuldade em entender e celebrar a fé, sobretudo na Eucaristia. Importa, ainda, valorizar a catequese das crianças como oportunidade de evangelização dos pais.
No âmbito do ministério ordenado, tanto de diáconos como de presbíteros, importa criar uma cultura de formação permanente, para lá do dia da ordenação. A formação deve reforçar o exercício do ministério como serviço e complementaridade, longe da tentação do poder e de disputas de supremacia. Exige-se uma cultura de transparência e prestação de contas, não só nas questões económicas, ainda que nestas seja fundamental. Urge acompanhar melhor os presbíteros jovens.
Estamos conscientes de que muitos destes caminhos podem ser vistos em diferentes estádios de realização, quando olhamos uma diocese grande e complexa, com uma vida pastoral rica e diversificada, como o é a diocese do Porto.
Ao partilhar este texto com os diocesanos, estamos certos de que há propostas que não precisam de nenhuma decisão da igreja universal para serem implementadas. Por isso, este contributo deve ser visto como instrumento de reflexão, muito simples e objectivo, que permita a uns melhorar quanto já fazem e a outros ousar caminhos possíveis e necessários. Esperamos que possa ser, para todos fonte de estímulo e ânimo para o anúncio do Cristo vivo.