A Voz Portucalense divulga na íntegra um artigo publicado no dia 28 de agosto pelo jornal do Vaticano baseado em entrevista a D. Manuel Linda. O bispo do Porto fala do futuro da diocese, assinalando algumas prioridades pastorais: juventude, família, seminários e pastoral vocacional.
O ar fresco do Oceano Atlântico é uma panaceia para milhares de turistas que todos os dias afluem às discotecas à beira do rio Douro ou à praça da Sé que oferece uma vista deslumbrante de toda a cidade desde a colina. O Porto recebe cerca de seis milhões de visitantes todos os anos, com um número recorde de estadias de 656 mil só no mês de agosto, conforme refere em 2023 o Instituto Nacional de Estatística (Ine). Neste contexto dinâmico e estimulante, inserem-se as atividades da diocese que, um ano depois da Jornada Mundial da Juventude de 2023, vive uma renovada experiência espiritual com novas linguagens para transmitir o Evangelho. Uma iniciativa que “cimentou a Igreja em torno do Papa Francisco”, como “garantia de unidade”.
“Imediatamente após a JMJ desafiei os jovens a continuarem no caminho da sinodalidade, da participação e do encontro. Por isso iniciámos um processo de auscultação, único em Portugal, às propostas pastorais para o futuro desta diocese”, diz ao L’Osservatore Romano o bispo do Porto, Manuel da Silva Rodrigues Linda, que nesta entrevista nos falou também de um projeto relativo ao próximo Jubileu. O título é: “Porto, que procuras? Vinde e vede”. “Milhares de jovens participantes (grupos paroquiais e outros representantes de espiritualidades específicas, pastoral universitária, escuteiros, grupos informais com menor ligação à Igreja) foram convidados a falar sobre dez temas que consideram mais urgentes para a pastoral diocesana. A cada dois meses surge uma questão para reflexão e os resultados fluirão para uma assembleia final que aprovará uma espécie de diretriz”. Ideias úteis para a formação e integração em três âmbitos: juventude, família, seminários e pastoral vocacional. Estas são as prioridades da diocese.Sentar-se para saborear um copo de vinho do Porto num dos muitos locais que oferecem comida tradicional e especialidades vínicas faz-nos sentir no centro do mundo. A conversa em inglês ou em línguas asiáticas e africanas sobrepõe-se, entre sons de talheres, copos e pratos servidos por empregados também vindos de vários países do globo. “Esta é, em certo sentido, uma nova realidade para nós. É o resultado de um processo de desenvolvimento económico regional devido fundamentalmente ao facto de a cidade ter sido eleita, durante vários anos consecutivos, como o melhor destino turístico da Europa”, explica o bispo. Não só turistas, mas também trabalhadores: “Além dos migrantes tradicionais provenientes dos países de língua portuguesa, nomeadamente Brasil, Cabo Verde e Angola, afluem para este país pessoas que chegam do Extremo Oriente (especialmente Paquistão, Bangladesh, Índia, Vietname). região) e do Norte de África”.O Porto é uma cidade multiétnica em que existe uma convivência “livre de conflitos, exceto pequenos confrontos comerciais” entre asiáticos devido à “forte exploração económica dos migrantes através do aluguer de alojamento a preços exorbitantes e sem proteção”, acrescenta Manuel Linda. Uma questão sobre a qual a diocese e os órgãos públicos procuram manter elevada atenção. “O nosso secretariado diocesano para as migrações está a fazer um trabalho extraordinário na integração destas pessoas, maioritariamente de religião muçulmana e hindu. Um grupo de voluntários ajuda-os nos trâmites burocráticos de regularização e oferecemos uma escola gratuita de língua portuguesa reconhecida pelo Estado”. É um contexto que desafia a diocese em termos de diálogo ecuménico (“já tradicional entre nós”) e inter-religioso: “Em 2018 – continua o prelado – assinei um protocolo de respeito e colaboração com a comunidade judaica do Porto, que participou no acolhimento dos jovens que se preparavam para a JMJ”. As reuniões são constantes. “Para tratar das outras confissões religiosas, criei uma comissão diocesana que está a fazer um trabalho extraordinário: prova disso é o pedido que a comunidade islâmica me fez para interceder junto das autoridades políticas para que fossem autorizados a construir o seu próprio cemitério”.
Um ano depois do final da JMJ 2023, o bispo do Porto sublinha que a iniciativa teve “forte impacto na vida da Igreja em Portugal”. Em particular, na diocese “gerou autoestima na comunidade crente atingida por escândalos; reuniu milhares de voluntários; apresentou o rosto de uma Igreja jovem e com uma forte experiência espiritual; sublinhou a participação, a corresponsabilidade e a sinodalidade dos leigos; identificou a Igreja como uma verdadeira comunidade de serviços, especialmente graças aos milhares de famílias anfitriãs; promoveu vocações, embora, por enquanto, de forma fraca”.
A JMJ foi uma grande lufada de ar fresco, diz Manuel Linda. “O sopro do Espírito encontrou as velas do barco da Igreja capazes de o acolher e de se deixar guiar por Ele na direção certa”. Neste percurso os meninos e meninas das 477 paróquias da diocese do Porto desempenham um papel fundamental: graças ao programa de preparação de catequistas, através do escutismo católico, através da promoção da cultura da fé nas universidades e nas escolas. “Tudo isto – conclui o prelado – quer incluir uma dupla dimensão: envolver os pais e tornar a catequese atrativa, única forma de ‘lutar’ contra os desafios.