Falando numa sessão evocativa do VIII Dia Mundial dos Pobres, D. Manuel Linda recordou os números do combate à pobreza na Diocese do Porto, lamentando a falta de ajuda do Estado. Neste evento foram premiados projetos juvenis que dinamizam a caridade e a solidariedade nas paróquias e comunidades.
O auditório da Junta de Freguesia de Espinho encheu-se, na sexta-feira 15 de novembro, para uma sessão evocativa do VIII Dia Mundial dos Pobres, numa organização do Secretariado Diocesano da Pastoral Social (SDPS), sob a coordenação do padre Rubens Marques.
Especial relevo para o Concurso de Ideias “Atreve-te a Sonhar” dirigido aos jovens e que já vai na sua segunda edição e que tem o apoio da Irmandade dos Clérigos e a organização do SDPS, com a Cáritas Diocesana e a Universidade Católica.
Os vencedores deste ano foram os jovens da paróquia de Freamunde com o projeto “Ecos de esperança”, que combate a solidão dos idosos e o abandono dos mais velhos. Este grupo de jovens recebeu um prémio de 750€ para a implementação do projeto, sendo que o segundo classificado recebeu 500€ com um projeto desenvolvido por jovens da paróquia de Alfena que junta a colaboração da Cruz Vermelha e da junta de freguesia de Alfena. Finalmente com a quantia de 250€ ficou em terceiro lugar o projeto Rede Moreira Sénior que apoia e ajuda idosos na paróquia de Moreira da Maia.
Na sua intervenção, D. Manuel Linda sugeriu a ideia de “um pacto de regime em favor dos pobres”. O bispo do Porto recordou os números do combate à pobreza na diocese do Porto, lamentando a falta de ajuda do Estado. “Estamos a fazer isto à custa dos cristãos sem a ajuda do Estado Central”, afirmou D. Manuel Linda lembrando também o importante trabalho desenvolvido pelas instituições da Igreja na ajuda à velhice, no apoio à família e também junto dos migrantes. “Somos fortes credores do Estado”, declarou.
O bispo do Porto destacou o trabalho da Cáritas Diocesana do Porto e também da Obra Diocesana de Promoção Social. Mas, em particular, sublinhou a presença no território da diocese de 111 centros sociais paroquiais, 28 misericórdias, 268 conferências vicentinas e ainda 34 outros grupos de ação social e caritativa. “São milhares de voluntários que ajudam dezenas de milhares de pessoas”, disse D. Manuel Linda.
Durante esta sessão evocativa, D. Roberto Mariz, bispo auxiliar do Porto, recordou a mensagem do Papa Francisco para o VIII Mundial dos Pobres que tem como título: “A oração do pobre eleva-se até Deus”. D. Roberto Mariz assinalou o valor da oração, sobretudo na preparação do Jubileu do ano 2025, apontando a importância de “fazer a oração dos pobres também como nossa oração”, afirmou.
Uma oração que permita criar “um coração humilde, que não se vangloria e sabe que pode recorrer ao amor misericordioso de Deus”, disse o bispo auxiliar do Porto sublinhando que “cada cristão é chamado a ser instrumento de Deus para a libertação e promoção dos pobres para que sejam socorridos”. “Sejamos peregrinos de esperança dando sinais de amor a quem se cruza connosco”, acrescentou D. Roberto Mariz.
Para contextualizar o Dia Mundial dos Pobres no momento de renovação atual da Igreja, foi orador nesta sessão o padre Sérgio Leal, pároco de Anta e Guetim, naquele concelho de Espinho, mas, chamado a intervir na sua qualidade de especialista em sinodalidade.
A segunda sessão do Sínodo dos bispos terminou em outubro, mas estão ainda em funcionamento grupos de trabalho sobre vários temas, sendo a pobreza uma das temáticas presentes do Relatório de Síntese da primeira sessão do Sínodo em 2023.
“Os pobres, protagonistas do caminho da Igreja”, é o título do ponto 4 do citado relatório. A ele se referiu o padre Sérgio Leal lembrando a “marca identitária de Deus na opção preferencial pelos pobres”.
“A caridade não é mais uma coisa a fazer, mas o modo como fazemos todas as coisas”, disse o sacerdote assinalando que Sínodo é, precisamente, “saída da Igreja no mundo”, na “beleza de caminhar juntos”.
No âmbito da consulta sinodal recordou os relatórios de síntese nacional e diocesano, destacando que ambos “dizem que há um cariz sócio caritativo em Portugal. Há um reconhecimento das instituições do serviço dos católicos que dá credibilidade à Igreja”. Lembrou a necessidade da promoção de uma “consciência de fraternidade” e da escuta do “grito dos pobres”.
O padre Sérgio Leal alertou, contudo, para importância de ser construído um verdadeiro caminho sinodal, que seja mesmo em conjunto, pois há o perigo de que a um défice de sinodalidade possa corresponder um défice de fraternidade.